terça-feira, 1 de março de 2011

Texto da Professora

Esse relato foi escrito por um anjo que dá aula lá na escola da Catarina, e que ano passado recebeu nossa pequena com muito afeto.
Profe Amanda: muito obrigada por tudo!

" Mudanças: de Catarina para nós

No meio de uma tarde de estudos com meus alunos do segundo ano, batem à porta e ao abrir encontro Catarina e sua bela família sorrindo. Já haviam me avisado que uma aluna nova iria integrar o grupo após as férias de julho e eu estava curiosa para saber quem seria, pois adaptar uma criança no meio do ano nem sempre é fácil.
Minha principal preocupação era com os conteúdos, por nem sempre estarmos na mesma organização que as demais escolas. Para isso comecei a elaborar materiais de testagens sutis e imaginar o que poderia ser feito para aproximá-la de nossos projetos. Confiava muito no grupo para o acolhimento de Catarina, mas sempre que existia espaço, parávamos, enquanto grupo, para refletir sobre a chegada dela e sobre as maneiras de recebê-la bem.
Catarina me olhava, ao lado da porta, fixamente nos olhos, diferente de muitas crianças que sentem medo imediato do adulto ou professor novo. Com um sorriso tímido, deixou-me alegre em perceber sua simpatia. Era o primeiro momento de visita, onde a apresentei rapidamente ao grupo que também estava curioso para saber quem seria a nova amiga.
Passaram-se as férias e no retorno lá estava Catarina, com seu olhar firme, entrando logo na fila para caminharmos lentamente até a sala de aula. Nas atividades de integração, percebi que ela havia se preparado da mesma maneira que nós para essa mudança. Mas na vida dela muitas mudanças estavam acontecendo: colégio, cidade, colegas, professora, casa e família … sim, Catarina receberia em dois meses um novo e único irmão. Além disso, a descoberta recente desta nova companheira: a diabetes. E eu precisava desempenhar a minha parte nesta história: ajudá-la a se integrar na escola, na turma, com seus novos amigos.
Até aquele momento tinha recebido informações sigilosas do colégio sobre a diabetes tipo 1. Porém, não sabia de muita coisa e logo marquei um horário com os pais, que me deram todas as informações possíveis e alguns sites para me informar. Na primeira semana li tudo que podia à respeito e me cadastrei em um site que me manda mensagens diárias até hoje. Eu queria ser fundamental na vida desta criança, que aos meus olhos, enfrentava com firmeza uma situação que para muitos é sinônimo de lástima.
O ano corria e eu queria muito que ela formasse laços com os colegas. Em pouco tempo estava tão integrada que passou a falar nas intenções de oração os seus sentimentos sobre as tais mudanças, exceto uma. Todos escutavam aquela menina de voz meiga e olhar firme com admiração, pois ela se colocava em todas as situações, sempre na intenção de ensinar tudo que já tinha vivido.
Questões, inclusive, de expor ou não algo que era cotidiano em sua vida: as medicações e aplicações; como ela tinha resolvido não contar aos colegas o que fazia diariamente na enfermaria e porque não aceitava lanches, entre outras. Comecei a criar códigos para lembrá-la de fazer a testagem e aplicar se necessário, para passar a medição, informar de quanto aplicou, sem que seus colegas ficassem sabendo…
Cada semana, num olhar, criávamos um código. As vezes, ela simplesmente sorria, pegava seu estojo e saia da sala para se medicar. E quando algumas colegas mais próximas perguntavam o que ia fazer, “combinávamos” que iria no banheiro fazer higiene. Em seguida, junto da família, Catarina decidiu que deixaria um estojo na enfermaria, assim poderia sair sem chamar a atenção.
O tempo passou.
Depois de muitas vivências e o fortalecimento da amizade, percebo um grupo de meninas vindo do pátio reclamando sobre um suposto segredo que Catarina havia confiado somente à uma colega.Eu sabia que logo que um segredo é confiado à uma pessoa, ele deixa de ser segredo. Mas precisava mediar a forma com que ele chegaria aos demais colegas, e principalmente, como Catarina enfrentaria essa situação?
Fiz uma intervenção discreta, relacionando sobre qualquer assunto, com o objetivo de desconstruir aquele bolinho de meninas. Quando todos pareciam envolvidos com os estudos, me aproximei de Catarina como quem fosse corrigir o caderno e perguntei a ela como seria se todos ficassem sabendo. Ela me olhou com aqueles grandes olhos e disse: - Tudo bem, profe, elas logo vão saber mesmo.
E logo souberam. Catarina percebeu que poderia ensinar ao dividir com o grupo seus aprendizados sobre como o amor cresce dentro de um lar que recebe um novo integrante, sobre uma boa alimentação, sobre uma nova informação que pode mudar seu esquema de vida e também pode nos transformar em pessoas mais humanas e atentas ao valor de uma vida bem vivida"



2 comentários:

  1. Me emocionei muito com o texto da Professora Amanda. A Catarina realmente é exatamente o que esta descrito neste texto, muito bem escrito... Obrigada professora Amanda! Que você possa sempre seguir fazendo o bem pelos teus alunos.. E que o teu exemplo profissional seja sempre seguido!

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  2. Amada Amanda,
    me fez lembrar de Saint-Exupéry:
    "Tu te tornas eternamente responsável pelo que cativas."
    Cativou a todos nós...
    Beijos

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