quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Dedos de Pianista

Lembro quando fui furar o dedo da minha filha pela primeira vez. Precisava colher uma gotinha de sangue para a medição da glicemia.

No consultório da endocrinologista tudo pareceu fácil. Mas quando chegamos em casa, a coisa não funcionou assim de modo tão simples. Fiz a primeira tentativa, o primeiro furo, mas não deu certo. Não saía sangue. Não queríamos fazer um furo maior, para evitar a dor, mas ele ficou tão superficial que acabou não saindo sangue. Fui para outra tentativa, agora aumentando o “calibre” do lancetador. O furo ainda foi pequeno, mas apertando um pouco, a gotícula vermelha acabou se formando, suficiente para fazer o teste.

Depois isso, muitas outras tantas vezes, acabei não conseguindo fazer um furo que desse sangue suficiente para o teste. Mesmo depois de quase dois anos de prática, ainda tem dia que falho na primeira tentativa e não consigo logo o sangue necessário para o glicosímetro.

Talvez por isso, para mim, o mais incômodo, no dia a dia, é o bendito furo no dedo, repetido pelo menos 5 vezes ao dia: ao acordar, meio-dia, lanche, janta e ao deitar. Mas ainda assim, bendito furo, pois graças a ele podemos ter um controle saudável sobre o diabetes.

Mas estes mesmos dedos que nós furamos todos os dias, agora também estão fazendo arte. A Catarina está estudando piano e, para nós, pais corujas, já toca lindamente. É emocionante ver seus dedos de pianista.


Abraço, Ricardo

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Pretinho básico


Domingo passado foi um dia lindo, ensolarado, perfeito para irmos ao estádio, assistir nosso time do coração. Como de costume, separamos o kit insulina-glicosímetro, nosso “pretinho básico”


Chegamos ao estádio e logo a Catarina quis comer um salgadinho. Consegui convencê-la a comer pipoca (muito melhor, pois tem mais fibras). Fizemos o teste de glicemia e o resultado deu alto: 254 (ao meio-dia almoçamos em um buffet e a contagem de carboidratos sempre é mais difícil). Fizemos então 5 doses de insulina rápida – 3 para diminuir e 2 pela pipoca. O jogo começa, o clima esquenta, e a Catarina pede para comprar um picolé. Concordei e fiz então mais duas doses de insulina. Resolvemos sair antes – nosso time já estava ganhando – para assim evitar o congestionamento do final do jogo, mas ela então quis comer mais um pastel. Deixei e fiz mais duas doses de apidra.

Ao chegar em casa, nova medição da glicemia e deu 112 – ótimo, acertamos as doses no jogo, e nosso “pretinho básico” mostrou-se mais um vez essencial


domingo, 25 de setembro de 2011

Coração Valente!

Quando a gente passa por uma situação especial, como o diabetes, um dos sentimentos que se enfrenta é o da solidão. Parece que só nós temos este problema e ninguém entende nada do assunto. Por isso é tão importante encontrar outras pessoas, que conheçam a nova companheira, para nos dar apoio e força para seguir. Este blog e outros tem servido para isso, para acabar com o sentimento de solidão e também provar que o diabetes é só mais um companheiro em nossa caminhada.

No último final de semana tivemos ainda a sorte de encontrar uma pessoa que é um verdadeiro exemplo: o ex-jogador Washington, conhecido como Coração Valente.


 
Quando jovem, em início de carreira, recebeu o diagnóstico do diabetes tipo 1, e mesmo assim seguiu sua carreira, sendo um verdadeiro campeão, dentro e fora dos gramados!

Foi emocionante e também muito gratificante poder dizer, pessoalmente, que ele é um exemplo para nós.

Obrigado, Washington!

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Faltou pilha!

Depois de meses de programação, enfim conseguimos tirar alguns dias de folga, viajando para a serra gaúcha. Fomos comemorar o dia do gaúcho – 20 de setembro – em grande estilo (hehehehe).

Para tanto, todo os apetrechos necessários foram separados: glicosímetro, tiras-teste, agulhas, lancetas e lancetador, insulinas rápida e basal, balas (sim, para quem não conhece a rotina do diabético tipo 1, até parece contraditório, mas é preciso levar sempre alguns doces para uma possível hipoglicemia). Somado a isso, fraldas, pomada, leite, mamadeiras, etc, do nosso segundo filho de 1 ano de idade.

Chegamos ao meio-dia de sábado em Gramado e logo fomos almoçar, pois já sabemos que o horário da refeição não pode atrasar, sob o risco de outra hipoglicemia. Como sempre, antes da refeição, fomos fazer o teste de glicemia quando, para nossa surpresa, o sinal do glicosímetro avisou que a bateria estava acabando. Pois é, depois de quase dois anos do diagnóstico, ainda conseguimos esquecer algo: baterias de reserva para o glicosímetro.

Reação imediata: parar na próxima farmácia e, se preciso, comprar outro aparelhinho para medição da glicose, caso não encontrássemos pilhas novas. Só que acabamos nos distraindo com o passeio, e só fomos procurar novas pilhas no outro dia, quando o glicosímetro não quis mais funcionar (só funcionou porque a Simone teve a ideia genial de trocar as duas pilhas de posição) Quando enfim fomos à farmácia, outra surpresa: a moça que nos atendeu na filial da Panvel de Gramado acabou nos dando o aparelho que estava em uso na farmácia. Sem saber muito bem o que dizer, agradeci sinceramente, lembrando que somos clientes da Panvel (esta rede de farmácias tem uma filial em Porto Alegre dedicada ao diabetes, tendo ótimos descontos uma semana de todo mês).

Desse episódio, algumas lições:
  • por mais que sejamos precavidos, sempre somos surpreendidos pelo diabetes
  • é bom estar pronto para surpresas, agradáveis ou não
  • existem boas pessoas que podem nos ajudar quando precisamos
  • ao viajar, veja se não vai faltar pilha!
Abraço, Ricardo

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Saindo do foco - é bom aprender com o diferente

Quando criança, eu simplesmente achava que era um bebê adorável, naturalmente charmoso e a criatura mais amável da face da Terra. A minha bem-aventurada ignorância infantil era uma benção. Não sabia que era diferente ou que teria pela frente um batalhão de dificuldades. Sabem de uma coisa? Acho que a vida só nos dá o que temos condições de suportar. Juro que, para cada deficiência ou defeito que você tem, a vida o abençoou com muitas habilidades e talentos para superar seus obstáculos.

Deus me equipou com uma incrível determinação, bem como outros dons e talentos. Logo dei mostras de que, mesmo sem braços e sem pernas, era atlético e tinha boa coordenação motora. Mesmo que meu corpo fosse apenas um tronco, era também um menino traquinas e intrépido, que adorava rolar e não parava. Aprendi a me colocar em posição vertical ao apoiar minha testa contra a parede e me aprumar. Meus pais passaram horas comigo tentando me ajudar a dominar um método mais confortável, mas sempre insisti em encontrar meu próprio jeito.

Minha mãe tentava me ajudar espalhando almofadas pelo chão para que eu pudesse usá-las como ponto de apoio para me levantar. Por alguma razão, decidi que era melhor encostar minha testa na parede e me erguer(...).

Não sei exatamente qual é o fardo que você carrega, tampouco vou fingir que já enfrentei crise semelhante à sua, mas dê uma olhada no que meus pais passaram quando nasci. Imagine como se sentiram. Pense como o futuro parecia sombrio.
Talvez nesse exato momento você não consiga ver a luz no fim do próprio túnel, mas saiba que meus pais também não conseguiam prever a vida maravilhosa que um dia eu teria. Não faziam ideia de como o filhinho deles não apenas seria autossuficiente e se dedicaria com afinco a uma carreira, mas também seria feliz, com uma vida cheia de alegrias e propósitos!
A maior parte dos temores dos meus pais jamais se materializou. Certamente me criar não foi tarefa das mais fáceis, mas acho que, apesar dos pesares, tivemos uma boa dose de alegria e felicidade.”


Esse pequeno trecho de uma grande história está no livro
Uma vida sem limites, de Nick Vujicic, Ed. Novo Conceito, 2011.

Eu geralmente escolho livros por afinidade com autores e temáticas, indicação de amigos, comentários em jornais e revistas, alguns clássicos, leitura obrigatória de trabalho.
Mas este livro eu não escolhi.
Ele me escolheu quando, de frente para a sua capa, me deparei com a foto de Nick.
Sim, a foto já conta uma grande história de luta, sofrimento, de batalhas emocionais, de vitórias, e como ele mesmo relata, de felicidade e alegrias.

Como aqui em casa somos devoradores de livros (não de doces,hehehe), partilhamos a noite de algumas leituras e comentários.
A Catarina ao saber da história do Nick, na mesma hora disparou:
“O diabetes não é nada perto dessa história”.
Quem sou eu pra discordar?
Pra mim o diabetes fica pequeno.
Se a história do Nick ajudou? Eu não sei.
Eu só sei que somos humanos, sempre vamos comparar.
Estabelecer parâmetros.
Mas antes de tudo, é preciso se sensibilizar.
Eu me deixei tocar por esta história incrível de uma vida sem limites.
Fica a indicação. Abraço, Simone.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Passeio da escola - sentimentos novos

Stock Photography: Children sitting in school bus portrait exterior view


O tempo vai passando e a gente vai mudando.
Vai aprendendo e crescendo.
O diabetes também faz isso com a gente. Não só adoça, mas também amadurece.
Hoje a Catarina tem passeio da escola. Conhecer pontos turísticos e históricos de Porto Alegre.
Ontem a professora ligou (puxa! milagre!!) para me lembrar, e assim poder organizar com antecedência a alteração de rotina.
Pela primeira vez senti tranquilidade, nenhuma apreensão, nenhum sofrimento antecipado.
Sim, porque antes eu me rebentava por dentro de saber que minha filha estaria rodando por aí, pelo mundo, com a possibilidade de ter uma hipo, e passar mal. Ou de extrapolar nos lanches coletivos dos passeios e passar a tarde com hiperglicemia.
Dessa vez foi diferente, não senti essa apreensão toda.
Minha filha irá fazer um passeio e pronto, pensei. Como qualquer criança.
Ela sabe como se cuidar, ela sabe o que fazer. Ela sabe fazer escolhas, dentro do que é exigido para a sua idade.
E esse sentimento de calma e serenidade acabou repercutindo na Catarina.
De manhã acordou disposta, feliz. Logo se arrumou para a escola.
Separou máquina fotográfica, um caderninho de anotações, e foi arrumar seu estojinho de insulina/glicosímetro. Sozinha, por iniciativa dela.
Levou de lanche dois pedaços de bolo diet e um iogurte de morango. Mais a garrafinha de água.
Feliz e responsável.
Eu, observando.
Como minha filha e eu crescemos. Juntas, uma dando força à outra.

Abraço, Simone.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Doce fala de menina

Ver detalhe da imagem


Dia desses, sentados no sofá comendo uma sobremesa diet - esses potinhos de queijinho com frutas da marca Danúbio - eu e o Miguel, nosso bebê de 1 ano, nos deliciávamos com esta iguaria de baixíssimo carboidrato, quando a Catarina se manifesta interessada pelo o que comíamos:


- "Que estão comendo aí? É de goiabinha?", pergunta ela.
-"Não é de ameixa.", digo eu.
- "O mano come de ameixa?"
- "Come, um pouquinho,sim... Ih, já estão nos cuidando mano.", respondo. Para ouvir em seguida:

- "Ué, vocês me cuidam toda hora, tudo o que eu vou comer..."
- " É verdade, tens razão filha..."

Tóin!!! Toma!! Quem mandou deixar a bola quicando...
Quem diz o que pensa, ouve o que não quer. Será?
Acho que ouve o que precisar SER ESCUTADO!!!

Escutar isso me fez sentir duas coisas.
Primeiro, como se tivesse levado um soco no estômago.
Segundo, a sensação de, por mais sufocante que possa parecer, ter a certeza de estar fazendo o que deve ser feito. Eu tenho que cuidar, esse papel é meu.
Sábias palavras minha filha. Disse a verdade nua e crua.
Disse o que sente. Que bom!!
Cuidamos sim. Toda hora, toda refeição. Manhã, tarde, noite e madrugada.
Esse é nosso papel. Isso é o que temos de fazer como pais, cuidar e cuidar.

Boa semana,
Simone.