Somos uma familia que desde a primavera de 2009 convive com a diabetes tipo 1 de nossa filha Catarina, então com 7 anos. A partir de lá aprendemos bastante: aplicar insulinas, fazer teste de glicemia, furar o dedo, contar carboidratos, evitar doces... Agora, queremos com este blog trocar experiências com outras familias.
segunda-feira, 25 de junho de 2012
Saudade do antes
Foi assim que terminamos o domingo, saudosas. Catarina e eu.
Já era tarde e, num momento de silêncio na casa, percebo que ela está com
uma lágrima no canto do olho.
Pergunto: "- Tudo bem, filha?"
Ela responde: " - Tô com saudades."
Pergunto de novo: " - De quem?"
Ela: " - Saudades de poder comer um chocolate sem medir..."
Dei um abraço bem apertado e disse: " Eu te entendo filha."
E chorei junto.
Ficamos ali, abraçadas. Ela no meu colo, quase do meu tamanho.
Tão grande, tão madura, tão sincera.
Depois, mais aliviadas, ela me convida para olhar tv.
"Claro!", respondo.
E no sofá, juntas, demos boas risadas olhando um desses programas para adolescentes.
A vida segue.
terça-feira, 19 de junho de 2012
Das amizades
Nunca nos encontramos.
Não sei seus gostos,
suas manias.
Nem sei onde mora,
muito menos sua música favorita.
Seu apelido,
desconheço.
Temos muitas coisas em comum.
Sonhos, desejos,
aflições, preocupações.
Noites insones.
Nossa rotina é
praticamente a mesma.
Nunca nos encontramos.
Mas somos tão íntimas,
que nos chamamos de amigas.
Que nos entendemos.
Cúmplices.
Nunca nos encontramos.
Mas nossas vidas estão
ligadas.
Servem de exemplo, uma
para a outra.
Apoio, colo.
O que nos torna tão
próximas?
Somos mães.
Escrevi essas palavras
para ilustrar como as amizades virtuais transformam nossa vida.
Recebi dias atrás uma
mensagem linda, de uma grande amiga.
Que, assim como eu, tem
um filho diabético:
“Oi Simone, td
bem? Nao nos conhecemos, mas saiba que sua familia mudou minha
afliçao ha 6 meses qdo descobri q meu filho tem diabetes aos 7 anos
na época. Minha irma comprou a revista sabor e vida diabeticos e eu
li a reportagem da familia tipo 1. Esta leitura me trouxe de volta a
realidade e me deu muita força. Muito obrigada a familia tipo 1!!!
Bjssss, Aline”
Criamos o blog para
conhecermos outras famílias tipo 1.
Como a família da
Aline, da Sílvia, da Carolina, da Nicole, da Mafalda, da Sarah, da
Ana Cláudia, da Du, da Valéria, da Carol, da Miriam, da Shyrlene,
da Jane, da Verônica, da Denilva, da Dani, da Luana, da Renata, da
Ingreth, da Leoneis, do Arno, do Luiz, do Bruno, da Elaine, da
Cristiane, da Elisa, da Nildys, do Paulo Roberto, e mais um montão
de gente...
Estamos longe, mas tão
perto ao mesmo tempo.
Abraço, Simone.
sexta-feira, 15 de junho de 2012
Ainda bem!
Domingo à noite.
Família reunida.
Televisão ligada.
E no Fantástico, da Rede Globo, rolando mais uma daquelas matérias que mais impressionam do que divertem.
O tema era "parto em casa", ou, de acordo com a reportagem, "parto humanizado domiciliar": mulheres que decidem dar a luz em casa.
Ao entrevistarem um médico, ele esclareceu:
- Este tipo de procedimento não é recomendado para mães com hipertensão, problemas cardiacos ou diabéticas.
Com ar de alívio, a Catarina então exclamou:
- Ainda bem, pois se meu marido quiser este tipo de parto, eu vou poder dizer que não posso.
É minha filha, ainda bem!
sexta-feira, 8 de junho de 2012
Paris não é para os diabéticos?
Quando falamos que temos uma filha diabética, muitas vezes ouvimos os mesmos comentários:
- "Ela comia muito doce?"
- "Vocês tem alguém diabético na família?"
- "Coitada, não pode comer doce!"
Com o tempo nos acostumamos com essas repetidas declarações. Muitas delas são dadas por pessoas desinformadas ou sem acesso a maiores esclarecimentos. Outras vezes, ouvimos isso daqueles que acreditávamos serem mais esclarecidos, mas que, por preguiça ou ignorância, acabam falando sobre o que não sabem. Nessas situações, aprendemos a ouvir e a exercer a paciência.
Mas ontem fomos surpreendidos por uma nova pérola.
Ao pegar o jornal pela manhã, lá estava na contracapa:
"Paris não é para os diabéticos".
Uma afirmação do conhecido Luis Fernando Veríssimo, em sua coluna semanal no Jornal Zero Hora.
De acordo com o famoso escritor, é muito difícil encontrar adoçante em Paris, chamado por lá de "falso açúcar", por isso conclui: a Cidade Luz "não é um lugar para diabéticos".
Diante de tamanha afirmação, não podemos deixar de lamentar e registrar a sua infelicidade, marcada pelo mau gosto e pela ignorância.
Para nós que buscamos uma vida normal para nossa filha, sem discriminações, de modo que ela possa viver como as demais crianças da sua idade, foi bastante desagradável ler uma frase que supõe lugares onde o diabético não deva ir.
Ao afirmar que Paris "não é um lugar para diabéticos", Luis Fernando Veríssimo também demonstrou a sua ignorância, pois parece desconhecer a realidade dos diabéticos do tipo 1, que podem fazer contagem de carboidratos e deste modo consumir até açúcar, aplicando então a dose de insulina necessária para a ingestação do alimento.
O diabético não depende de adoçantes. Como qualquer pessoa, deve procurar ter hábitos saudáveis, fazendo exercícios físicos e comendo alimentos de modo equilibrado. E isso pode ser feito em qualquer lugar do mundo.
Portanto, sempre é bom lembrar da sabedoria popular:
quando não se tem o que dizer, é melhor ficar calado.
quarta-feira, 6 de junho de 2012
Descarte de agulhas
No momento do diagnóstico a cabeça da gente recebe tanta informação, que faz a tarefa, dentre tantas outras, de juntar agulhas parecer bem estranha. Confesso que tivemos dificuldades nesse ponto. Olhar aquele monte de agulhas se acumulando não é tão simples para nós pais. Mas a responsabilidade e a aceitação acabam tornando as coisas mais leves. E hoje essa tarefa é automática aqui em casa.
A nossa garrafa está quase cheia.
Aqui em Porto Alegre podemos fazer o descarte nas Farmácias Panvel. O site deles explica tudo sobre descarte consciente de lixo perfurocortante.
Achei essa matéria "Como descartar corretamente materiais usados no tratamento do diabetes" no site da SBD que acabou inspirando esse post.
Abraço,
Simone.
sábado, 2 de junho de 2012
Pai, eu acertei!
Com ar de satisfação,
ela me encontrou em casa, no final do dia, e foi logo dizendo:
- Pai, sabia que
hoje eu acertei e a mãe errou.- Como assim, filha?
- Sim, ao meio dia, a mãe não contou a polenta e no recreio tava 280. Tinha lanche coletivo, eu fiz dez, e no final da tarde estava 120. Eu acertei e a mãe errou!
Pois é, como a vida de
qualquer um, temos acertos e erros.
Em regra, para fazermos
a contagem de carboidratos, sempre cuidamos o que a Catarina está
comendo. Mas é obvio que muitas vezes algo escapa, ou então não
conseguimos acertar quantos carboidratos foram ingeridos. Na
sexta-feira, ela almoçou no restaurante do colégio com a Simone. E
o almoço fora de casa sempre é mais complicado para o controle,
pois a gente acaba comendo mais e sem saber exatamente o conteúdo de
muitos alimentos.
Nesse dia, a Simone deu
aquela tradicional olhada no prato dela, fez uma estimativa dos
carboidratos e aplicou a insulina. Só depois, no final do dia,
sabendo do resultado do teste de glicemia feito pela Catarina na hora
do recreio, lembrou que não havia contado a polenta. Daí o número:
280 mg/dL.
Para deixar tudo mais
incerto, era dia de lanche coletivo no colégio: cada criança traz
um prato e todos compartilham (não adianta, a comida sempre é
motivo para festa). Como de costume, no recreio, ela mediu a glicemia
e fez a insulina. Estando alto, ela fez 4 doses da caneta da
Novorapid para baixar e mais 6 pela comida. Deu certo: no final da
tarde, a glicemia estava 120mg/dL.
É obvio que ao
deixarmos ela calcular sozinha a insulina, corremos um risco: possibilidade de
hipoglicemia. Mas, temos observado que, com o tempo e nosso auxílio, mesmo ela sendo
ainda uma criança, está aprendendo a determinar a insulina. Mais que isso, a Catarina está se conhecendo, inclusive a diabetes, que com ela sempre está. Além disso,
temos que incentivar a sua autonomia. E como prêmio, podemos
ouvir ela dizer:
- Eu acertei!
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