quinta-feira, 7 de março de 2013

Diabetes, e daí?



Nossa pequena decidiu trocar de médico. Disse que não gosta mais do seu endócrino, e quer mudar. No início até relutamos um pouco, tentando convencê-la do contrário, justificando que ele é muito bom, um dos melhores. Mas de nada adiantou, ela está decidida. Falou que não irá mais em nenhuma consulta com ele. Tenho certeza que ele entenderá. Primeiro porque é um médico sensível, e vive em sua família a realidade diária do diabetes tipo 1. Segundo, porque ele sabe que o paciente crônico tem fases boas e ruins, de aceitação e rebeldia. E terceiro, porque ele respeita a decisão dela, deixando a porta aberta, para quem sabe um retorno amigável e reconciliador. Digo reconciliador, porque ele na última consulta, além de chamar a atenção dela para algumas atitudes em relação a alimentação (o que  atualmente ela não gosta), mas que é o papel dele, fez a colocação, que nenhuma pessoa com diabetes gosta de ouvir: “no caso de uma pessoa normal a glicemia é tanto, no caso dela a glicemia...”. Isso bastou para ela não querer voltar, nunca mais. E ele se deu conta. Na consulta posterior, só comigo e meu marido reconheceu que pisou na bola. Eu disse, ele é sensível. Ele sabe que não se diz pessoa normal, se diz pessoa com diabetes, ou pessoa sem diabetes. Principalmente para um pré-adolescente, que pega tudo ao pé da letra. Raciocínio da minha filha: “Eu sou normal, e não vou mais num médico que me trata como se não fosse!!”.
            Bem, depois deste evento partimos para a etapa seguinte: achar um novo endócrino.  Com três nomes apresentei uma delas para a minha filha dizendo: “Ah, esta médica também tem diabetes tipo 1, desde pequena.” Resposta da minha filha: “E daí?”. Falei: “Ah, é porque ela vive o diabetes também, pode te entender mais...” (como se isso desse garantias de ter um bom currículo, ou de ela ser uma pessoa melhor). Bobagem.
            Enfim, o que eu quero falar hoje, com estes dois relatos, muito pessoais e particulares, é que o diabetes não torna ninguém especial, melhor, pior, anormal, ou um super herói. E foi isso o que minha filha entrelinhas disse ao seu médico: “peraí, eu sou normal, eu sou como todo mundo. Eu só tenho diabetes.” E quando eu diferenciei a médica com diabetes dos demais, ela de novo disse: “peraí, mãe! Isso não faz dessa médica uma pessoa melhor do que os outros, isso não a torna especial.” E ela tem razão. Não somos nós mãe e pais que vivemos dizendo que nossos filhos são como todas as outras crianças - principalmente na escola - que podem fazer tudo o que as outras crianças fazem, e que poderão ser o que quiserem na vida. Então, porque agora eu ainda caio na armadilha de tornar o diabetes um diferencial na vida dela e das outras pessoas.
            O diabetes não deve ser motivo para fazer ninguém especial. Pelo simples motivo de que ser especial cansa. Ter diabetes é pra vida toda. Ser especial a vida toda é uma chatice, pesa demais. Por isso, minha filha comunicou, do jeito dela, que ela não é uma pessoa fora da norma, diferente, especial. Ela só tem diabetes. E que essa nova médica não é melhor que os outros, ela também só tem diabetes.
            As coisas podem ser um pouco diferentes, estressantes, cansativas, mas todos continuamos, na nossa essência, os mesmos. Se éramos engraçados antes, continuaremos fazendo graça, mesmo com diabetes, e do diabetes. Se tínhamos medos, eles continuarão a nos acompanhar, mesmo com diabetes. Se éramos corajosos, continuaremos enfrentando tudo de frente. Se precisávamos de colo, ainda vamos continuar pedindo carinho. O diabetes entra na nossa vida sem pedir licença. Mas ele não pode ser a nossa vida. A nossa vida quem faz somos nós, com ou sem diabetes.
Um grande abraço...

(O título dessa postagem é em homenagem a minha grande amiga Dani Yumi, que me ajudou a compreender esse novo normal que é viver com diabetes.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário