Dia desses fui buscar a Catarina no colégio, e com o frio que anda fazendo por aqui estamos sempre correndo, tentando escapar dele. Como se isso fosse possível.
O colégio dela é bem no centro. Logo, pessoas apressadas não faltam por ali.
Ao cruzar a porta do colégio, já na calçada, passa por nós um menino, lindo, passeando com seus pais, ou familiares. Seu rosto era meigo, tranquilo, feliz. Devia ter entre seus 10 e 12 anos. Eles também deviam estar indo para casa, fugindo do frio. Só que a pressa deles era menor que a nossa. Ora, ir pra casa numa cadeira de rodas, no centro da cidade, não é tarefa para apressados.
No instante em que passamos por eles, a Catarina diz: "ai que lindo ele, mãe, todo bonitinho."
Eu disse: "...é mesmo filha. Que guri bonito!"
Mais uns passos até a parada de ônibus e eu falei: "...sabe, filha, quando vejo uma criança cadeirante, o diabetes fica tão pequeno pra mim. Claro que quem vive e sente as dificuldades é tu. Tu é que sabes, dos dias bons e ruins, mas acho que não poder andar, correr, pular deve ser bem mais difícil, para mim, é claro."
Ela disse: "é verdade mãe, acho que essas pessoas devem ter dias bem ruins, com vontade de sumir..."
Falei: "com certeza."
Quem não tem esses dias?
Nosso ônibus chegou. Lembrei do filme "Mar adentro", que conta a história de um homem que se vê, de uma hora para outra, tetraplégico. Grande filme.
E nessa pequena viagem de ônibus pensei: como é bom poder olhar para o lado, e aprender com as pessoas, não somente esbarrar nelas.
Como é bom poder olhar para o lado, e se sensibilizar com os sujeitos que cruzam o nosso caminho.
Como é saudável olhar para o lado, e enxergar que as dificuldades nos tornam mais humanos.
Abraço, Simone.